A Raposa e o Galo
Numa árvore empoleirado
garboso galo cantava,
o seu canto era afinado
e toda a gente afirmava:
“Quando o galo não cantava,
como canta a cotovia,
ninguém na aldeia acordava
e nem dava que era dia.”
Mas já estava destinado,
porque a raposa rondava,
que ele fosse cobiçado
pois um belo almoço dava.
Quando a raposa passou
pela árvore onde ele estava,
logo assim o abordou
para ver se o enganava:
“Trago uma novidade
que a toda a gente agradou:
o governo da cidade
disse que a guerra acabou.
Um decreto publicou
informando os animais
que a guerra terminou
e que há tréguas gerais.
Desça o compadre daí,
vamos ambos aos jornais,
venha ver o que eu vi,
ouvir outros animais.”
“Os animais estão a par?
A notícia é conhecida?”
“Porque está a perguntar?
Que pergunta descabida!”
“É que estou a ver chegar
um grupo de caçadores
com muitos cães a ladrar:
vêm galgos corredores,
podengos e perdigueiros!”
“É melhor eu pôr-me a andar
que eles são muito ligeiros
e o caldo vai-se entornar!...”
O galo, que era esperto,
é que se fartou de rir:
“Mostra-lhes lá o decreto,
que ele é p’ra se cumprir!”
A raposa desaparecera
deitando contas à vida,
pois o galo não comera
e fora ela a comida.
A raposa e o galo, Mª Teresa Santos Silva, Editora Ambar